Boa noite, amigos.
Hoje, um pouco mais tarde que o de costume, escrevo sobre um assunto que foge um pouco da formalidade, mas tenho certeza que TODOS os advogados em início de carreira se identificam muito:
Os inevitáveis constrangimentos.
O indivíduo estuda por 5 longos anos, termina sua faculdade e começa a preparação para a temida prova da OAB. Estuda em ritmo acelerado, como se fosse a última prova de sua vida, como se aquela carteira vermelha fosse a garantia do sucesso!
Enfim, consegue sua aprovação, que lindo, que maravilha.. "agora sou um advogado, rapaz, me respeita!"
Ok, passada a euforia decorrente da aprovação, aquele indivíduo que até ontem era um jovem universitário, sem muitas responsabilidades, além de estudar para provas de faculdade, começa a se deparar com a verdadeira prática da advocacia, principalmente o momento mais esperado: A TEMIDA AUDIÊNCIA.
O jovem advogado já tem estudado a teoria da audiência, todas suas formalidades, desde o pregão das partes, a tentativa de conciliação, a posição que deve se colocar à mesa e tudo o que acredita ser necessário saber, dentro do processo, para um bom prosseguimento e êxito do seu cliente.
Acontece que quando a hora chega, a boca seca, o coração acelera, todos aqueles pontos teóricos vistos no seu livro de "audiências" passam de forma tão atropelada e dinâmica que quando viu, foi-se. Costumo dizer que é como um jogo de truco, existem várias regras a serem seguidas, e realmente são, mas tudo acontece tão rápido que se a pessoa não estiver ligada, perde sua chance de tomar a providência correta.
Por conta disso, o advogado em início de carreira acaba passando por alguns momentos constrangedores, mas que servirão de lição posteriormente, lição para que se enxergue que ainda tem muito o que aprender e evoluir.
Deixe-me contar de forma rápida uma situação em que passei em minha primeira audiência de instrução trabalhista.
Era minha primeira audiência de instrução, na 6ª Vara do Trabalho de Londrina, com o Doutor Juiz Reginaldo Melhado, um excelente ser humano, de muita simpatia com todos. O advogado da outra parte havia sido meu professor da graduação e membro da minha banca de TCC, Sr. Maurício Toledo (o que me deixou mais nervoso, mas depois agradeci a Deus por ter sido ele - e vocês entenderão o motivo). Estava presente na sala também meu irmão, que também é advogado e resolveu prestigiar minha primeira audiência de instrução.
Eu havia estudado bem o processo, estava ciente do que deveria fazer, mas depois de um tempo você percebe que isso não é o suficiente, pois a audiência é o momento que tudo de mais inesperado pode acontecer (ACREDITEM).
A audiência começou, o advogado da parte contrária ouviu o autor (meu cliente), que inclusive foi bem em suas respostas. Eu também resolvi escutar o preposto da reclamada, e neste momento eu pensei "poxa, fui bem", porque o rapaz respondeu de maneira que viria a favorecer meu cliente.
Eis que chega o momento de ouvir as testemunhas. Eu tinha na ponta da língua uma contradita para a testemunha da ré, estava eufórico com a situação. Mas não sabia que o Dr. Advogado da parte contrária também tinha para a testemunha do meu cliente, e uma das boas! O rapaz sentou de frente com o juiz, quando este abriu a palavra para o advogado, que disse: A TESTEMUNHA É DUPLA SERTANEJA COM O AUTOR.
Eu não sabia disso, até porque sempre pergunto se existe amizade intima ou grau de parentesco, e quando realmente não há, a instrução anteriormente à audiência é de que confirme que realmente tais condições não existem.
O magistrado, com toda sua calma, perguntou à testemunha do meu cliente: "O senhor canta com o autor?", ele foi categórico: "NÃO, EXCELÊNCIA" - aquilo foi me gelando de uma forma, que eu já pedia a Deus para ser mentira - e o juiz continuou "Mas não toca nenhum instrumento, nem canta, nem nada?", mais uma vez ele respondeu: "NÃO, EXCELÊNCIA, NEM NO CHUVEIRO".
O juiz perguntou se a outra parte tinha prova do que havia sido alegado. Foi respondido que a única prova era sua testemunha. O juiz o chamou. Mais do que imediatamente eu contraditei, pois havia uma acusação de dano moral praticado justamente pela testemunha trazida pela reclamada.
A contradita foi acolhida, o alívio veio forte no meu estômago, pois não existiam provas. Porém, o inacreditável - e desesperador - aconteceu. O magistrado, não mais tão calmo, virou sua tela de computador em direção da testemunha do autor. Na tela o site "youtube" com diversos vídeos da dupla (autor e testemunha).
Naquele momento eu não sabia pra onde olhar, não sabia o que fazer - E NEM HAVIA O QUE SER FEITO.
A audiência foi encerrada, saímos todos da sala, e meu professor, junto com meu irmão, caíram na gargalhada.
Apesar da situação ser desesperadora e de grande constrangimento, é inevitável que se tire aprendizados. Inevitável também é a certeza de que todos passam por situações parecidas, e que jamais estaremos livres de, vez ou outra, nos depararmos com novidades que nos deixarão perdidos.
O que muda com o tempo é a tranquilidade que cada um vai lidando com momentos assim, a forma na preparação para audiência, tanto de forma pessoal/profissional, quanto para com os clientes, que também devem ser preparados.
A advocacia é estimulante por isso. Obviamente que a importância da petição bem feita, fundamentada, é indiscutível. Mas a audiência é o momento em que o advogado tem a chance de demonstrar em público seu conhecimento, suas habilidades e de fazer jus à profissão que suou para conquistar.
E vamos em frente, evoluindo sem parar.
Você tem alguma história pra contar? Conte nos comentários!
Uma boa noite a todos, e uma excelente semana.
Um abraço.
Higor Henrique Leandro
OAB/PR 64.072
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